Censurar a hipocrisia
Debate-se hoje, no Parlamento, uma moção de censura ao Governo de António Costa. E debate-se na altura certa. Quando algo não está bem, deve agir-se logo, contrariamente ao que o Governo fez na sequência da tragédia de Pedrógão Grande.
Se, a seguir a este fatídico incêndio, o Governo deveria, per si, ter percebido a magnitude dos seus erros, depois desta nova vaga de incêndios e após incompreensíveis declarações em jeito do "Isto vai acontecer mais vezes", era a altura de a decência imperar e sair da forma mais honrosa possível. Aliás, estas declarações ocorreram num momento de genuína honestidade em que António Costa, consciente do seu passado na Administração Interna e em outros cargos governativos, percebeu que carregava consigo um longo saldo de erros acumulados, bem como uma natural incapacidade para fazer melhor.
É também sabido que a moção de censura será chumbada. E será chumbada por aqueles, outrora campeões das moções de censura, utilizadores compulsivos deste instrumento legal, que agora vêm falar em aproveitamento político. Bloco de Esquerda e PCP não enganam ninguém. Apresentaram, no passado, moções de censura por motivos bem menos graves e agora, perante falhas grosseiras do Estado reconhecidas por "quase" todos os cidadãos, vêm falar de aproveitamento político. E aqui concluo dizendo o seguinte: evitar debater e assumir os nossos erros, alegando que os outros se aproveitam do sofrimento alheio em benefício próprio, é usar esse sofrimento alheio para nos escudarmos das acusações e, consequentemente, aproveitamento político.
De resto, após a vitória do Syriza na Grécia, ficámos a conhecer os dois perfis-tipo de um radical de esquerda. De um lado, está Alexis Tsipras, que emanava um grande falatório amplo em considerações anti-sistema e anti-austeridade e que, à medida que foi governando, foi deixando cair esta retórica, preferindo o pragmatismo. Mesmo que isso tenha levado ao rasgar de alto a baixo de tudo o que prometeu antes de ser eleito, de tal forma que, hoje, o único radicalismo que ainda possui é ser radicalmente diferente, enquanto chefe do governo, do que era na oposição. Do outro lado, vem Varoufakis, também ele com uma postura semelhante a Tsipras antes de estar no Governo. Mas o ex-Ministro das Finanças grego, percebendo que não podia manter o que dizia enquanto membro do governo, preferiu sair para poder continuar a falar à vontade.
Em Portugal, tanto Catarina Martins como Jerónimo de Sousa revelaram ser do perfil Tsipras. E nem foi preciso entrarem no governo para se revelarem. No meio de tanta hipocrisia, só não vê quem não quer.
Se, a seguir a este fatídico incêndio, o Governo deveria, per si, ter percebido a magnitude dos seus erros, depois desta nova vaga de incêndios e após incompreensíveis declarações em jeito do "Isto vai acontecer mais vezes", era a altura de a decência imperar e sair da forma mais honrosa possível. Aliás, estas declarações ocorreram num momento de genuína honestidade em que António Costa, consciente do seu passado na Administração Interna e em outros cargos governativos, percebeu que carregava consigo um longo saldo de erros acumulados, bem como uma natural incapacidade para fazer melhor.
É também sabido que a moção de censura será chumbada. E será chumbada por aqueles, outrora campeões das moções de censura, utilizadores compulsivos deste instrumento legal, que agora vêm falar em aproveitamento político. Bloco de Esquerda e PCP não enganam ninguém. Apresentaram, no passado, moções de censura por motivos bem menos graves e agora, perante falhas grosseiras do Estado reconhecidas por "quase" todos os cidadãos, vêm falar de aproveitamento político. E aqui concluo dizendo o seguinte: evitar debater e assumir os nossos erros, alegando que os outros se aproveitam do sofrimento alheio em benefício próprio, é usar esse sofrimento alheio para nos escudarmos das acusações e, consequentemente, aproveitamento político.
De resto, após a vitória do Syriza na Grécia, ficámos a conhecer os dois perfis-tipo de um radical de esquerda. De um lado, está Alexis Tsipras, que emanava um grande falatório amplo em considerações anti-sistema e anti-austeridade e que, à medida que foi governando, foi deixando cair esta retórica, preferindo o pragmatismo. Mesmo que isso tenha levado ao rasgar de alto a baixo de tudo o que prometeu antes de ser eleito, de tal forma que, hoje, o único radicalismo que ainda possui é ser radicalmente diferente, enquanto chefe do governo, do que era na oposição. Do outro lado, vem Varoufakis, também ele com uma postura semelhante a Tsipras antes de estar no Governo. Mas o ex-Ministro das Finanças grego, percebendo que não podia manter o que dizia enquanto membro do governo, preferiu sair para poder continuar a falar à vontade.
Em Portugal, tanto Catarina Martins como Jerónimo de Sousa revelaram ser do perfil Tsipras. E nem foi preciso entrarem no governo para se revelarem. No meio de tanta hipocrisia, só não vê quem não quer.
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