16. Moonraker



Nem James Bond ficou imune à febre da da saga Star Wars. É verdade que Ian Fleming publicou  um livro chamado Moonraker (1955), mas não incluía qualquer ação passada no espaço. Também é verdade que For Your Eyes Only (1981) estava escalado para suceder a The Spy Who Loved Me (1977), tendo-se antecipado o lançamento de Moonraker (1979) devido ao sucesso de George Lucas que chegou aos cinemas em 1977. Foram, sem dúvida, os sinais dos tempos que levaram à antecipação do filme que mais fugiu aos limites do verosímil, mas que nem por isso ficou beliscado.


Título: Moonraker (1979)


Realizador: Lewis Gilbert


007: Roger Moore


Bond Girl: Lois Chiles


Vilão: Michael Lonsdale


Música: Moonraker (Shirley Bassey)


Melhor linha

Dra. Goodhead: Do you know him?

Bond: Not socially. His name's Jaws, he kills people.

Resumo

Depois de um meritório esforço em You Only Live Twice (1967), Lewis Gilbert tem aqui um regresso ao espaço com grande fulgor. Quem tem lido estas análises, pode verificar que a minha preferência tem recaído sobre filmes com argumento com maior adesão à realidade. No entanto, é minimamente desculpável que Bond se tenha deixado contagiar pela febre Star Wars. Além disso, quando estamos na presença de uma linha narrativa que assumidamente foge aos limites do verosímil, mas de uma forma bem enquadrada, torna-se tolerável este pequeno devaneio espacial.

Mas os devaneios não se ficam por aqui, pois olhando para os planos do maquiavélico Hugo Drax (Michael Lonsdale), todo um novo patamar de megalomania é atingido. Obcecado com a exploração espacial, Drax é um industrial com vários complexos fabris que produzem componentes para os seus vaivéns, designados por Moonraker. Tendo desenvolvido o seu centro de operações numa estação espacial, o seu plano passava pelo genocídio de toda a população na terra, para depois a repovoar com espécimes com uma compleição física de elite, preparados e treinados minuciosamente para o efeito. Da sua estação espacial, Drax seria um autêntico Deus que olharia pela sua criação dos céus ou, na linguagem de George Lucas, the Emperor. Puro entretenimento.

É com a ajuda da bela Doutora Holly Goodhead (Lois Chiles), uma agente especial da CIA sob a cobertura de cientista da NASA que Bond tem de deslindar os planos de Drax para os frustrar. É nessa missão que se conhecem em Paris, encontram-se fortuitamente em Veneza e depois no Rio de Janeiro até se unirem na ida ao espaço para deter o genocídio plantado por Drax. Não se podia ter um melhor roteiro paisagístico. Em Veneza, podemos ver uma cómica perseguição pelos belíssimos canais da cidade, bem como a alusão ao intemporal Casablanca (1942) quando Bond atira um inimigo da torre do relógio de Veneza que acaba por cair em cima de um piano, rematando com a célebre citação: "Play it again, Sam".

Já no Rio de Janeiro, celebra-se o Carnaval ao mesmo tempo que se dá conta do regresso do gigantesco e memorável Jaws (Richard kiel), numa cena de cortar o fôlego no teleférico da cidade que dá origem à melhor linha do filme. Até mesmo a cena em que Jaws se apaixona por uma loira (Irka Bochenko) ao som da abertura de "Romeu e Julieta" de Tchaikovsky é memorável. Por fim, do recôndito Amazonas, a ação segue no espaço com um tiroteio de pistolas laser digno de uma luta entre a Resistência e os soldados imperiais.

Moonraker é sinónimo de entretenimento garantido, ao mesmo tempo que dá uma pequena chamada de atenção sobre a ameaça de extinção por via de armas biológicas. Fugindo aos cânones do que deve ser um filme Bond, não poderá subir mais lugares na contagem, mas perdurará pelo seu atrevimento de desafiar todos os limites que 007 já havia enfrentado.

O Vilão

De estatura baixa e com uma forma física que faz inveja a poucos, poderia ser difícil compreender o porquê de Hugo Drax almejar criar uma nova raça humana com espécimes de porte atlético cuidadosamente escolhidos. Será certamente por algum complexo de endeusamento e por uma sensação de controlo sobre toda a humanidade que Drax se torna o vilão mais maníaco de toda a saga. Michael Lonsdale, que se viria a cruzar com Sean Connery em The Name of the Rose (1987) no papel do Abade Abone - baseado no livro Il Nome della Rosa, do escritor italiano Umberto Eco - oferece uma interpretação consistente com a psicopatia meticulosa de Hugo Drax, revelando-se uma escolha muito acertada para o papel.
Michael Lonsdale no papel de Hugo Drax

Bond Girl

A Dra. holly Goodhead é a companhia perfeita de Bond para deter Hugo Drax. Tem o mérito de não ser uma mera figurante no enredo e de ter um papel ativo para desmascarar os planos diabólicos do magnata da indústria aeroespacial. Lois Chiles entra bem no elenco, tornando-se numa excelente parceira de Roger Moore. Além disso, não precisa de recorrer a trajes menores para exibir a sua elegância.

Lois Chiles encarnado a Doutora Holly Goodhead

Música

Shirley Bassey regressaria pela segunda vez - ou seja, para o seu terceiro tema - após Diamonds Are Forever, com uma belíssima balada romântica, claramente diferente do seu anterior registo. Shirley Bassey não sabe cantar mal e só mesmo Goldfinger, por ser um tema icónico num dos melhores filmes de Bond poderia superar na sua voz este melodioso Moonraker.


O Melhor

As tiradas humorísticas e a assumida megalomania do argumento resultaram bem.
Play it again, Sam

O Pior

Pode parecer paradoxal, mas Bond deve ter vida própria e Moonraker deixou-se influenciar em demasia pelo universo Star Wars. 

Resistência contra os soldados imperiais?



Comentários

Mensagens populares deste blogue

22. Octopussy

18. You Only Live Twice

21. Tomorrow Never Dies