Incoerências ao sabor do vento
Um dos maiores problemas de muitos emissores de opinião é a descricionariedade com que justificam as suas posições. Quando a opinião não se rege por linhas argumentativas claras, é natural que surja um dos piores defeitos passível de ser atribuído a um opinion maker. a incoerência. Ser incoerente pode equiparar-se às mudanças de direção que o vento toma: tanto pode vir da esquerda para a direita, ou vice-versa. Além do mais, quem padece de incoerência no discurso tende a embrenhar-se na demanda pela afirmação de opiniões consensuais, aquilo a que se pode chamar um cata-vento.
Este problema será aqui analisado à luz do que está a acontecer na Catalunha. Mas, para tal, é necessário fazer alguma contextualização. A Catalunha é uma região espanhola que contribui em larga escala para a riqueza do país. Desta forma, os catalães - alguns deles - sentem-se lesados por ter falta de autonomia face ao poder central, quando consideram que lhes seria mais benéfico ter a capacidade para tomarem as suas próprias decisões sem prestar contas a ninguém. O próprio governo regional catalão é pró-independência, como é passível de ser verificado no discurso do seu líder, Carles Puigdemont.
Este, em conjunto com os seus apoiantes, resolveu convocar um referendo à revelia da constituição espanhola que, para todos os efeitos, é a que vigora na Catalunha. Aqui, aproveito para introduzir a minha primeira opinião. O referendo, desde que respeitando as boas práticas democráticas, deve ser passível de ser realizado. No caso de impedimentos legais, estes devem ser resolvidos para dar o poder de decisão ao povo, à semelhança do que aconteceu na Escócia. Houve um referendo, os escoceses votaram não à independência e a vida continuou.
Aquilo que não pode acontecer é um referendo sem rei nem roque, convocado em forma de chantagem, com pessoas a poder votar em qualquer lado e quantas vezes quisessem (ou pudessem). As próprias regras do referendo foram alteradas a 45 minutos do seu início, o que agudiza o flagrante desrespeito pelas regras democráticas. O governo espanhol, na linha de garantir o cumprimento constitucional, promoveu o uso de carga policial, nalguns casos excessiva, sobre os cidadãos que queriam votar, os menos culpados na contenda.
Daqui, surgiram muitos opinadores e políticos no nosso país que, perante os acontecimentos ocorridos na Catalunha, rapidamente vieram afirmar de forma peremptória que a constituição não se pode sobrepor a tudo e que se deveria ter deixado as pessoas votar naquele referendo desrespeitador das regras democráticas e da constituição. E é aqui que entram as incoerências.
Por um lado, porque em referendos anteriores não se posicionaram da mesma forma, como foi o caso do referendo do Brexit. Este referendo, vá-se lá saber porquê, não recolheu as simpatias de uma franja altamente reivindicativa da nossa sociedade que, perante os resultados, pouco faltou para acusar os ingleses de agiotas. Pelo meu lado, reconheço toda a validade no referendo em Inglaterra, bem como o seu resultado. Foi a democracia a funcionar e a decisão, goste-se ou não, foi tomada por quem o devia fazer. De resto, amigos como dantes.
Por outro lado, esses que agora afirmam que a constituição não é assim tão importante, são os mesmos que entre 2011 e 2015 apontavam o dedos àqueles que, segundo diziam, atropelavam constantemente a Constituição da República Portuguesa. Os que agora menorizam a relevância da Lei fundamental de um país, são os mesmos que corriam a enviar normas para o Tribunal Constitucional e abriam o champanhe quando essas normas eram chumbadas por aquele órgão. Afinal, diziam, não se pode ir contra a constituição. Estranho, não acha?
Mas ainda mais estranho é continuarem por aí a falar com o rei na barriga, do alto da sua auto imposta superioridade moral, fazendo-se passar por pseudo-defensores dos "direitos" que lhes convém. E assim, em vez de se aproveitar esta fase favorável para resolver os problemas da nossa economia, como a dívida, anda-se a distribuir dinheiro para satisfazer determinadas clientelas. Esquecem-se é que o peso da dívida, agora silencioso, ameaça hipotecar muitos dos nossos direitos quando voltar a sair da toca. E, para tal, não é preciso muito mais do que o alastrar dos efeitos da questão catalã para o resto da Europa.
Este problema será aqui analisado à luz do que está a acontecer na Catalunha. Mas, para tal, é necessário fazer alguma contextualização. A Catalunha é uma região espanhola que contribui em larga escala para a riqueza do país. Desta forma, os catalães - alguns deles - sentem-se lesados por ter falta de autonomia face ao poder central, quando consideram que lhes seria mais benéfico ter a capacidade para tomarem as suas próprias decisões sem prestar contas a ninguém. O próprio governo regional catalão é pró-independência, como é passível de ser verificado no discurso do seu líder, Carles Puigdemont.
Este, em conjunto com os seus apoiantes, resolveu convocar um referendo à revelia da constituição espanhola que, para todos os efeitos, é a que vigora na Catalunha. Aqui, aproveito para introduzir a minha primeira opinião. O referendo, desde que respeitando as boas práticas democráticas, deve ser passível de ser realizado. No caso de impedimentos legais, estes devem ser resolvidos para dar o poder de decisão ao povo, à semelhança do que aconteceu na Escócia. Houve um referendo, os escoceses votaram não à independência e a vida continuou.
Aquilo que não pode acontecer é um referendo sem rei nem roque, convocado em forma de chantagem, com pessoas a poder votar em qualquer lado e quantas vezes quisessem (ou pudessem). As próprias regras do referendo foram alteradas a 45 minutos do seu início, o que agudiza o flagrante desrespeito pelas regras democráticas. O governo espanhol, na linha de garantir o cumprimento constitucional, promoveu o uso de carga policial, nalguns casos excessiva, sobre os cidadãos que queriam votar, os menos culpados na contenda.
Daqui, surgiram muitos opinadores e políticos no nosso país que, perante os acontecimentos ocorridos na Catalunha, rapidamente vieram afirmar de forma peremptória que a constituição não se pode sobrepor a tudo e que se deveria ter deixado as pessoas votar naquele referendo desrespeitador das regras democráticas e da constituição. E é aqui que entram as incoerências.
Por um lado, porque em referendos anteriores não se posicionaram da mesma forma, como foi o caso do referendo do Brexit. Este referendo, vá-se lá saber porquê, não recolheu as simpatias de uma franja altamente reivindicativa da nossa sociedade que, perante os resultados, pouco faltou para acusar os ingleses de agiotas. Pelo meu lado, reconheço toda a validade no referendo em Inglaterra, bem como o seu resultado. Foi a democracia a funcionar e a decisão, goste-se ou não, foi tomada por quem o devia fazer. De resto, amigos como dantes.
Por outro lado, esses que agora afirmam que a constituição não é assim tão importante, são os mesmos que entre 2011 e 2015 apontavam o dedos àqueles que, segundo diziam, atropelavam constantemente a Constituição da República Portuguesa. Os que agora menorizam a relevância da Lei fundamental de um país, são os mesmos que corriam a enviar normas para o Tribunal Constitucional e abriam o champanhe quando essas normas eram chumbadas por aquele órgão. Afinal, diziam, não se pode ir contra a constituição. Estranho, não acha?
Mas ainda mais estranho é continuarem por aí a falar com o rei na barriga, do alto da sua auto imposta superioridade moral, fazendo-se passar por pseudo-defensores dos "direitos" que lhes convém. E assim, em vez de se aproveitar esta fase favorável para resolver os problemas da nossa economia, como a dívida, anda-se a distribuir dinheiro para satisfazer determinadas clientelas. Esquecem-se é que o peso da dívida, agora silencioso, ameaça hipotecar muitos dos nossos direitos quando voltar a sair da toca. E, para tal, não é preciso muito mais do que o alastrar dos efeitos da questão catalã para o resto da Europa.
Bom dia Alex,
ResponderEliminarEm primeiro lugar, permite-me desculpar-me pela resposta tardia. Fico muito feliz pelo teu comentário. De facto, o tema principal aqui abordado é mesmo o da incoerência e da forma como questões estruturalmente semelhantes merecem comentários diametralmente opostos, por parte dos mesmos opinadores, devido a diferenças conjunturais que ditam um diferente posicionamento da opinião pública.
Estas questões conjunturais têm a ver com causas de popularidade que a tal, muitas vezes, obrigam. Dou-te um exemplo: se sou um crítico do novo programa da SIC, não posso ser um entusiasta expectador dos vídeos do Raminhos que expõem as filhas de forma totalmente inapropriada.