Ironias da vida
Não deixa de ser irónico que a grande maioria dos portugueses que hoje rejubila com a declaração de independência na Catalunha, coincida com aqueles que apoiam esta solução governativa e aplaudem as suas políticas. E a ironia surge perante a possibilidade cada vez mais real de a instabilidade do país vizinho - hoje a Bolsa de Madrid já afunda mais de 1,9% - contagiar outras economias da zona euro, nas quais a portuguesa surgirá à cabeça.
Talvez aí se perceberá que os resultados económicos que fomos obtendo derivaram de uma conjugação feliz de muitas circunstâncias, entre as quais a relativa, mas frágil, recuperação da zona euro, bem como os baixos preços do petróleo. Também não foi por acaso que a Comissão Europeia já veio confrontar Portugal para os riscos elevados dos Orçamentos do Estado de 2017 e 2018. É crasso quando não se percebe que as facilidades que a economia portuguesa foi tendo nos últimos anos estavam condenadas ao desaparecimento.
Não obstante, é possível que Centeno consiga atingir as metas orçamentais a que se propõe. Para além dos impostos escondidos de forma impiedosa em muitos produtos, é necessário não esquecer as cativações. Estas permitem ao governo afirmar que vai gastar determinada verba nas várias rúbricas orçamentais, quando depois gasta muito menos. É, portanto, natural que não tenha de se recorrer a orçamentos retificativos. Mas é importante perceber que isso não deriva das capacidades de previsão e análise de Centeno. Deriva sim, de dizer que se vai gastar, por exemplo, mais alguns milhões em saúde, mas, na prática, isso não acontecer, ficando a verba retida. Palavra dada não é palavra honrada.
Continua a ser irónico que, perante a polémica entre Governo e Presidente da República, o Primeiro-Ministro venha dizer que tem nervos de aço quando não suporta ser interpelado por um jornalista que sai de trás de um carro.
É também irónico que, após o triste espetáculo do Secretário de Estado Mourinho Félix para as câmaras de televisão, aquando da reunião do Eurogrupo, em que exigiu a Jeroen Dijsselbloem que se retratasse das polémicas declarações acerca do povo português, venha agora o Partido Socialista dar luz verde à sua permanência à frente deste órgão europeu. É claramente um absurdo e uma falta muito grande de carácter.
É mais irónico ainda, que BE e PCP tenham considerado ilegítimo apresentar uma moção de censura quando são os maiores esbanjadores de moções de censura. Como também é irónico comparar as críticas que faziam aos governos antes e depois de 2015.
Neste país que assim é governado, não admira que a ironia seja figura de destaque. No entanto, ao invés de se revelar uma figura de estilo digna de embelezar uma narrativa construtiva, apenas expõe ao ridículo aqueles que não usam da coerência nas suas ações. Mas isso não surpreende ninguém. É difícil ser coerente quando não se olha a meios para atingir os fins.
Talvez aí se perceberá que os resultados económicos que fomos obtendo derivaram de uma conjugação feliz de muitas circunstâncias, entre as quais a relativa, mas frágil, recuperação da zona euro, bem como os baixos preços do petróleo. Também não foi por acaso que a Comissão Europeia já veio confrontar Portugal para os riscos elevados dos Orçamentos do Estado de 2017 e 2018. É crasso quando não se percebe que as facilidades que a economia portuguesa foi tendo nos últimos anos estavam condenadas ao desaparecimento.
Não obstante, é possível que Centeno consiga atingir as metas orçamentais a que se propõe. Para além dos impostos escondidos de forma impiedosa em muitos produtos, é necessário não esquecer as cativações. Estas permitem ao governo afirmar que vai gastar determinada verba nas várias rúbricas orçamentais, quando depois gasta muito menos. É, portanto, natural que não tenha de se recorrer a orçamentos retificativos. Mas é importante perceber que isso não deriva das capacidades de previsão e análise de Centeno. Deriva sim, de dizer que se vai gastar, por exemplo, mais alguns milhões em saúde, mas, na prática, isso não acontecer, ficando a verba retida. Palavra dada não é palavra honrada.
Continua a ser irónico que, perante a polémica entre Governo e Presidente da República, o Primeiro-Ministro venha dizer que tem nervos de aço quando não suporta ser interpelado por um jornalista que sai de trás de um carro.
É também irónico que, após o triste espetáculo do Secretário de Estado Mourinho Félix para as câmaras de televisão, aquando da reunião do Eurogrupo, em que exigiu a Jeroen Dijsselbloem que se retratasse das polémicas declarações acerca do povo português, venha agora o Partido Socialista dar luz verde à sua permanência à frente deste órgão europeu. É claramente um absurdo e uma falta muito grande de carácter.
É mais irónico ainda, que BE e PCP tenham considerado ilegítimo apresentar uma moção de censura quando são os maiores esbanjadores de moções de censura. Como também é irónico comparar as críticas que faziam aos governos antes e depois de 2015.
Neste país que assim é governado, não admira que a ironia seja figura de destaque. No entanto, ao invés de se revelar uma figura de estilo digna de embelezar uma narrativa construtiva, apenas expõe ao ridículo aqueles que não usam da coerência nas suas ações. Mas isso não surpreende ninguém. É difícil ser coerente quando não se olha a meios para atingir os fins.
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