The Post - uma promessa não cumprida

O velho dito popular sentencia: "Não se fazem omeletas sem ovos". É estranho começar com esta ideia, visto que não faltavam ovos a The Post. E eram ovos de muito boa qualidade. À cabeça, um realizador com pergaminhos firmados na sua arte. Com ele, um par de atores consagrados, que nunca haviam contracenado sequer. Meryl Streep foi mesmo nomeada para a categoria de melhor atriz principal. Do lado masculino, Tom Hanks, um ator sólido e talhado para este tipo de filmes.

O problema não foi, portanto, a falta de ovos. A grande questão é que bons ovos não são suficientes para fazer uma boa omeleta. A ideia a transmitir é muito simples: a soma de partes individuais muito fortes não se traduziu num todo convincente e The Post saiu claramente abaixo das expectativas. Importa tentar explicar porquê.

A ideia de base ao filme não é nova, mas tem material e extensão para gerar excelentes argumentos. Todos sabemos que o mundo do jornalismo inspira muitas obras literárias e cinematográficas, algumas baseadas em eventos que realmente aconteceram, como era o caso. Neste filme, verificou-se um desaproveitamento desse potencial.

Sem querer entrar muito pelos spoilers, The Post inicia com uma tímida apresentação do assunto que está na base da polémica: a guerra do Vietname. E, a partir daqui, segue-se um interminável período de contexto das personagens sem grandes avanços na ação, bem como na narrativa. Sem prejuízo de poder incorrer em exageros, a contextualização termina praticamente a meio da película. 

Daqui se gera um problema de pouco ritmo e fluidez que contribui decisivamente para não facilitar a vida aos espectadores. Durante este período há claramente cenas que estão a mais e que, sendo apagadas, não prejudicariam em nada a compreensão do filme. Arrisco mesmo dizer que, nalguns casos, teria até ajudado.

Fácil é de entender que o tempo não chega para tudo. E, com uma parte inicial tão longa, o escalar da ação, clímax e desenlace dão-se a velocidade vertiginosa. E é esta vertigem que impede os atores de brilhar e de fazerem os espectadores sentir as dores, os dilemas e os receios que as suas personagens certamente terão experienciado. Tudo acontece tão rápido, que o próprio suspense do filme se perde, tornando-o muito previsível. A isso acresce a ausência de danos colaterais e uma das vitórias do "lado bom" mais limpas e tranquilas do cinema. Não que se peça sangue, mas pelo menos mais um pouco de suor e lágrimas para acrescentar cor e sabor a um resultado final, que sem isso, corre bem o risco de ser considerado clichê.

O filme é pontuado por alguns momentos interessantes, tais como as conversas obscuras de um Nixon que aparecia sempre de costas e com a voz distorcida. As interações de Hanks e Streep são fluídas e seguras, faltando, no entanto, relevo aos seus personagens para poder sonhar com as estatuetas douradas. O duelo de argumentos entre financiadores e editores é também bem conseguido.

Mas tal não é suficiente para fazer o filme resultar. No fundo, The Post carece de coesão, fluidez e suspense. E assim se explica que aquela que era uma das maiores promessas do cinema no ano passado tenha saído dos Oscars de mãos a abanar. 

Classificação: 5* (em 10)


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