14. Live and Let Die
A primeira missão de Roger Moore como agente secreto veio revigorar a saga, mostrando que o caminho a seguir seria pautado por mais humor, num registo mais ligeiro. Embarcando na corrente do baxploitation, caraterística dos anos 70, Bond tem aqui uma missão do outro lado do atlântico, passando por vários locais exóticos e desafiando toda a sabedoria do voodoo, ao mesmo tempo que combate o submundo da corrupção e crime organizado nas comunidades negras norte-americanas.
Título: Live and Let Die (1973)
Realizador: Guy Hamilton
007: Roger Moore
Bond Girl: Jane Seymour
Vilão: Yaphet Kotto
Música: Live and Let Die (Paul McCartney)
Melhor linha
Resumo
A entrada de Roger Moore na galeria oficial de 007 mostrou logo ao que vinha, evidenciando um registo humorístico reforçado, exemplificado pela tirada "Sheer magnetism, darling". Se não se recorda desta citação, está na altura de rever a estreia de Moore no papel. Vale a pena pelo entretenimento garantido, resultante dos locais exóticos de gravação e do humor bem conseguido. A razão para não estar melhor classificado é o afastar-se de um registo de ação típico de 007 e orientar-se mais para a imagem de marca que Moore veio trazer ao papel, cuja única exceção é For Your Eyes Only (1981).
O mote para Live and Let Die (1973) é bastante interessante e prometedor: três agentes do MI6 são assassinados no espaço de 24 horas em três localizações diferentes: na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, em Nova Orleães - na famosa cena que viria a inspirar a sequência de abertura de Spectre (2015) e em San Monique, uma ilha nas caraíbas que tinha como Primeiro-Ministro o Dr. Kananga (Yaphet Kotto). Com efeito, Dr. Kananga era o alvo da investigação que os três agentes levavam a cabo e ninguém menos que Bond poderia vir substituí-los, contando com a ajuda do seu leal amigo da CIA, Felix Leiter (David Hedison). Pelo meio, Bond descobre a existência de Mr. Big, um gangster que gere uma cadeia de restaurantes pelos Estados Unidos.
Mr. Big viria mais tarde a revelar ser Kananga, cujo plano passava por inundar o mercado de heroína, provocando uma descida de preço que aniquilasse a concorrência, a fim de obter o monopólio da sua comercialização. Kananga possuía vastíssimas plantações em San Monique, usando voodoo e rituais satânicos promovidos pelo Barão Samedi (Geoffrey Holder) para manter a população afastada dos campos.
Num filme recheado de blaxpoitation, com fortes menções a rituais esotéricos - como é o caso do voodoo ou do tarot - Bond tem aqui uma missão fora do habitual que resulta bem. O Dr. Kananga ilustra perfeitamente o que muitos ditadores de pequenos e grandes países fazem, aproveitando-se do seu poder para utilizar recursos dos seus países em proveito próprio, ao mesmo tempo que se envolvem em negócios ilícitos. Pelo meio, temos várias cenas de divertimento, destacando o momento em que Bond escapa de uma quinta repleta de crocodilos ou a perseguição de barco que despertou a atenção do Xerife J. W. Pepper (Clifton James), uma personagem peculiar que reapareceria em The Man With the Golden Gun (1974).
O Vilão
O Dr. Kananga representa bem a natureza corrupta de muitos responsáveis políticos, particularmente em países em desenvolvimento. Certo que em Live and Let Die certos parâmetros tenham sido exagerados para dar maior espetacularidade visual e narrativa - caso dos capangas ou da vidente -, a essência continua a manter-se fiel ao que se passa nos dias de hoje. Yaphet Kotto traz-nos uma interpretação excêntrica para vir ajudar a festa de Moore.
Yaphet Kotto na pele de Dr. Kananga |
Bond Girl
Seria em Nova Iorque que Bond viria a conhecer Solitaire (Jane Seymour), uma vidente que recorria ao tarot para ler o futuro, a mando de Kananga. Mais tarde, em San Monique, Bond ilude Solitaire a envolver-se com ele ao retirar a carta Lovers de um baralho com as cartas todas iguais. A partir desse momento, Solitaire perde todos os poderes de vidência e decide cooperar com Bond. Não deixa de ser uma Bond Girl diferente com uma história e enquadramento muito particulares. Jane Seymour dá bem conta do recado, sendo mais convincente na leitura das cartas que a própria Maya - antes de ter perdido os seus poderes.
Jane Seymour no papel da vidente Solitaire |
Música
Uma das melhores músicas que Roger Moore pôde ver na sua era. Boa letra, boa musicalidade, boa interpretação. Bom trabalho de Paul McCartney. Tanto que, em 1974, foi uma das nomeadas para o Oscar de melhor canção original, perdendo para The Way We Were. Vários covers surgiram deste tema, nos quais se destaca a versão dos Guns N' Roses.
O Melhor
Roger Moore não enganou ninguém quanto ao que vinha. E há que admitir que o seu registo humorístico teve um bom arranque.
"Sheer magnetism, darling" |
O Pior
Um filme muito dado a exageros em relação a determinados esterótipos.
O Barão Samedi é o exemplo de uma peculiaridade que foi algo longe de mais |
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