15. Spectre



O regresso de Sam Mendes era aguardado com muita expectativa depois do sucesso retumbante de Skyfall (2012), que veio responder a um momento de grande crise que a saga enfrentava - e que só encontrou paralelo após License to Kill em 1989. Ainda para mais, depois de se saber que a mítica organização criminosa inimiga de Bond, a Spectre - que dá título ao filme - estaria de volta, tudo levava a crer que teríamos um filme de sucesso. Infelizmente, tal esteve muito longe de se verificar, tornando-se no pior filme da era Craig.


Título: Spectre (2015)


Realizador: Sam Mendes


007: Daniel Craig


Bond Girl: Léa Seydoux


Vilão: Christoph Waltz


Música: Writing's on the Wall (Sam Smith)


Melhor linha

C: You can't really tell me that one man in the field can compete with all of this, running around out there with his license to kill.

M: Have you ever had to kill a man, Max? Have you? To pull that trigger, you have to be sure. Yes, you investigate, analyze, assess, target. And then you have to look him in the eye. And you make the call. And all the drones, bugs, cameras, transcripts, all the surveillance in the world can’t tell you what to do next. A license to kill… is also a license not to kill.

Resumo

"I'd rather slash my wrists (than play James Bond again)". Esta foi a citação mais marcante de Daniel Craig a poucos dias da estreia de Spectre (2015). Na altura, poder-se-ia pensar que o esgotamento do ator após 6 meses de filmagens poderia estar na origem destas afirmações. Não é mentira nenhuma que, de todos os atores que já representaram 007, Craig é sem dúvida o que dá mais de si ao papel, abdicando de duplos em muitos sets, o que culmina, não raras vezes, em lesões para o próprio ator - a mais recente nas gravações de No Time to Die (2020).

Não obstante, é de acreditar que tenha havido algo mais a motivar a polémica resposta do ator britânico: nada mais nada menos que a frustração com o resultado final do filme. E talvez isso tenha levado a que tenha assumido um papel mais interventivo no desenvolvimento do guião para a película a estrear estes ano, tendo como consequência as tais "diferenças criativas" que levaram à substituição de Danny Boyle por Cary Joji Fukunaga na realização.

O que importa aqui relevar é que, após toda a expectativa criada, Spectre veio a revelar-se uma verdadeira deceção, ficando até abaixo do tão maltratado Quantum of Solace (2008). Mas vamos por partes. A sequência de abertura é verdadeiramente notável, contando com um aparato de figurantes e cenografia acima de qualquer outra, evocando a sequência de abertura de Live and Let Die (1973) em maior escala. Sem dúvida a melhor sequência de todo o filme.

A partir daí as coisas vão piorando. Os habituais conflitos com M (Ralph Fiennes), a ação por conta própria, contando com Q (Ben Wishaw) e Moneypenny (Naomie Harris) como aliados devolvem rapidamente o filme à rotina, com a ligeira variante de os Serviços Secretos Britânicos - o MI5 e o MI6 - terem um novo burocrata na sua liderança, de nome Max Denbigh (Andrew Scott) que pretende destruir o programa 00. Esta narrativa transita, em parte de Skyfall (2012), quando M (na altura Judy Dench) enfrentou um inquérito por causa da divulgação de uma lista que divulgava a identidade de muitos agentes britânicos infiltrados.

A narrativa prossegue por Roma, onde Bond dá de caras com a sensual Lucia Sciarra (Monica Bellucci - que trouxe pontos positivos ao filme), viúva de um assassino que Bond havia liquidado no México. Em paralelo, Bond esbarra no filho do seu pai adotivo, Franz Oberhauser (Christoph Waltz) - mais conhecido por Blofeld - que foi uma verdadeira desilusão. Nem a perseguição monótona que culminou no Tibre, nem as cenas de pancadaria com Mr. Hinx (Dave Bautista) salvam a contenda. Pelo meio, 007 encontra-se com o famigerado Mr. White (Jesper Christensen) na Áustria, que lhe revela o paradeiro da sua filha, Madeleine Swann (Léa Seydoux), que o poderá levar à organização secreta que tanto procura.

Partindo para Marrocos - numa das raras idas de Bond ao continente africano - e regressando a Londres, o filme falha redondamente no aproveitamento do virtuosismo de Christoph Waltz, tornando a sua interpretação perfeitamente banal, bem como na tentativa de unificar todas as desventuras de Bond na era Craig como resultantes da ação de Blofeld - onde Dominic Greene (Mathieu Almaric, Quantum of Solace) é praticamente ignorado. O desfilar dos rostos de Mr. White, Raoul Silva (Javier Bardem), Le Chiffre (Mads Mikkelsen) ou Vesper (Eva Green) na cena passada na antiga sede do MI6 faz lembrar uma jarra despedaçada e colada aos bocados de qualquer maneira. Tudo por causa de uma citação tão inócua como: "It's always been me. The author of all your pain".

Spectre procura chamar a atenção para o problema da falta de privacidade motivada pelas tecnologias de ponta ao serviço de espionagem que ameaça a liberdade de todos nós. Mas falha redondamente ao procurar entrelaçar várias figuras do passado com novas personagens num novelo bastante confuso e com muitas pontas soltas. Nota positiva para o meritório esforço de Craig - apesar de estar abaixo do seu nível anterior, muito por culpa da abundância de graçolas juvenis - a beleza intemporal de Monica Bellucci e o dinamismo de Léa Seydoux.

O Vilão

Um puro desperdício dos talentos de Christoph Waltz. Espantoso como se pode levar um talentoso ator a ter uma interpretação banal. Uma pena, ainda para mais quando se fez regressar o antagonista mais icónico de Bond.
Christoph Waltz a fazer lembrar a cicatriz do Blofeld de Donald Pleasence

Bond Girl

Léa Seydoux trouxe garra e energia a um papel que tinha ficado praticamente vago em Skyfall e, porque não dizer, também em Quantum of Solace, encarnando a primeira personagem com quem Bond se envolve após a morte de Vesper. Não é com ela que o filme perde, apesar de não ser um portento de beldade. Não obstante, atriz que ficou famosa pela sua participação no filme La Vie d'Adéle (2013) agarrou bem o desafio, tornando-se numa boa parceira para contracenar com Daniel Craig. A sua personagem ocupa um papel de relevo no trama, o que é sempre positivo para uma Bond Girl, voltando a trazer Bond para fora da espionagem ativa.

Léa Seydoux enquanto Dra. Madeleine Swann

Música

O cantor Sam Smith tem um estilo e voz muito próprios, trazendo-os para a saga Bond. Foi com Daniel Craig que os temas musicais mais fugiram aos cânones. Este Writing's on the Wall é muito melodioso e bem orquestrado, faltando mais garra na voz para agarrar um tema de grande composição. Em todo o caso, parabéns Sam Smith, ainda para mais, pela conquista do segundo Oscar para melhor canção original de um tema Bond.


O Melhor

A sequência de abertura.



O Pior

A tentativa de unificar em todas as narrativas de Craig em torno Oberhauser - Blofeld - de forma atabalhoada.

Spectre

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