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A mostrar mensagens de outubro, 2017

A Viúva Negra - Gabriel Allon enfrenta o ISIS

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Daniel Silva é, presentemente, um dos melhores autores com a capacidade para ficcionar a realidade. Tem demonstrado uma inigualável intuição para criar uma linha narrativa imaginária paralela à nossa, onde os acontecimentos poderiam corresponder exatamente à manchete de qualquer jornal (credível). No título mais recente traduzido para português - estará entretanto a chegar a tradução de House of Spies  - essa verosimilhança com a realidade torna-se ainda mais assinalável. Silva não se preocupa em oferecer uma narrativa cheia de floreados e com grandes metáforas. O seu pragmatismo coaduna-se com o das personagens que cria, que são forçadas a focar-se nos seus objetivos. Os seus livros valem pela capacidade de levar o leitor a conhecer outras realidades, nomeadamente o submundo dos serviços de inteligência, que diariamente trabalham para manter a segurança nos seus países, bem como pela sua omnisciência que põe a nu as crenças e os inúmeros receios das suas complexas personagens. De

Ironias da vida

Não deixa de ser irónico que a grande maioria dos portugueses que hoje rejubila com a declaração de independência na Catalunha, coincida com aqueles que apoiam esta solução governativa e aplaudem as suas políticas. E a ironia surge perante a possibilidade cada vez mais real de a instabilidade do país vizinho - hoje a Bolsa de Madrid já afunda mais de 1,9% - contagiar outras economias da zona euro, nas quais a portuguesa surgirá à cabeça. Talvez aí se perceberá que os resultados económicos que fomos obtendo derivaram de uma conjugação feliz de muitas circunstâncias, entre as quais a relativa, mas frágil, recuperação da zona euro, bem como os baixos preços do petróleo. Também não foi por acaso que a Comissão Europeia já veio confrontar Portugal para os riscos elevados dos Orçamentos do Estado de 2017 e 2018. É crasso quando não se percebe que as facilidades que a economia portuguesa foi tendo nos últimos anos estavam condenadas ao desaparecimento. Não obstante, é possível que Centeno

Censurar a hipocrisia

Debate-se hoje, no Parlamento, uma moção de censura ao Governo de António Costa. E debate-se na altura certa. Quando algo não está bem, deve agir-se logo, contrariamente ao que o Governo fez na sequência da tragédia de Pedrógão Grande. Se, a seguir a este fatídico incêndio, o Governo deveria, per si, ter percebido a magnitude dos seus erros, depois desta nova vaga de incêndios e após incompreensíveis declarações em jeito do "Isto vai acontecer mais vezes", era a altura de a decência imperar e sair da forma mais honrosa possível. Aliás, estas declarações ocorreram num momento de genuína honestidade em que António Costa, consciente do seu passado na Administração Interna e em outros cargos governativos, percebeu que carregava consigo um longo saldo de erros acumulados, bem como uma natural incapacidade para fazer melhor. É também sabido que a moção de censura será chumbada. E será chumbada por aqueles, outrora campeões das moções de censura, utilizadores compulsivos deste i

O esfumar da memória

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Incêndio em Vila Cã. Foto do autor. Quero, em primeiro lugar, expressar a minha solidariedade para com todas as vítimas da vaga de incêndios que assolou o nosso país, causando tragédias e perdas incalculáveis. Começando, claro, pelas inúmeras  vidas humanas, mas também por todos os que viram o esforço e o trabalho de uma vida reduzidos, literalmente, a cinzas . E esses, no meio de todo o corrupio social e político, são os primeiros a ser esquecidos. Também aos nossos  Bombeiros  segue daqui um grande enaltecimento pela sua postura heroica e vontade em servir o país e os portugueses. É altura de se pensar em  valorizar verdadeiramente estes homens e mulheres que, apesar de voluntários, são verdadeiros profissionais.  Todos nós podemos fazê-lo, sendo sócios das associações de Bombeiros das nossas terras. Eu próprio estou em falha e cuidarei disso prontamente. A memória humana é muito curiosa. Não valerá a pena entrar por aspectos técnicos e científicos, dos quais pouco ou nada en

Incoerências ao sabor do vento

Um dos maiores problemas de muitos emissores de opinião é a descricionariedade com que justificam as suas posições. Quando a opinião não se rege por linhas argumentativas claras, é natural que surja um dos piores defeitos passível de ser atribuído a um opinion maker. a incoerência. Ser incoerente pode equiparar-se às mudanças de direção que o vento toma: tanto pode vir da esquerda para a direita, ou vice-versa. Além do mais, quem padece de incoerência no discurso tende a embrenhar-se na demanda pela afirmação de opiniões consensuais, aquilo a que se pode chamar um cata-vento. Este problema será aqui analisado à luz do que está a acontecer na Catalunha. Mas, para tal, é necessário fazer alguma contextualização. A Catalunha é uma região espanhola que contribui em larga escala para a riqueza do país. Desta forma, os catalães - alguns deles - sentem-se lesados por ter falta de autonomia face ao poder central, quando consideram que lhes seria mais benéfico ter a capacidade para tomarem as